terça-feira, 2 de novembro de 2010

a historia de paulo moura

este brasileiro de aparencia humilde é um retrato de injustiças acontecidas com muitos de nós nesse pais, vou contar-lhes a sua história.

 Nascido na cidade de serra talhada, filho de manoel moura de abricó e maria do carmo moura de abricó,paulo nasceu em uma familia que alem dele teve mais 7 irmãos,morava num casebre humilde, parecida com as palafitas que antes existiam em brasilia teimosa, teve que ajudar o pai e a mãe cedo a sustentar a familia, familia que trabalhava numa plantação de palma, uma especie de cactus do qual pode se tirar uma fibra que se produz cordas, cordões, barbantes,paulo aprendeu com seus irmãos e seus pais como fazer tudo aquilo que lhe foi ensinado, não estudava, mas trabalhava bastante, e o tempo que lhe restava de sobra ele brincava com sua coleção de cabeça de cabras, que ele encontrou no terrendo ao lado,eram somente cranios, ams como a imaginação de uma criança é bastante fertil, ele viu ali uma oportunidade de fazer delas seus brinquedos, ja que seus pais não tinha dinheiro suficiente para comprar nem uma bola sequer,os  anos iam passando, paulo via que os filhos de outros moradores da região, se mudavam  e nunca mais voltavam, curioso, paulo pergunou para o pai o porq daquilo acontecer, seu pai explicou que eles iam estudar e voltar somente quando fossem doutores, paulo perguntou a seu pai se ele tambem pderia fazer isso, e seu pai lhe respondeu que não, que ele o amará muito e não conseguiria ficar afastado dele e nem de outrois irmãos,paulo saiu calado e continuou a trabalhar com a retirada das palmas junto a seus irmãos,durante a noite aquele pensamento de virar doutror não saia da cabeça de paulo, mas ele sabia que seu ái nunca o deixaria ir,enquanto pensava, um grande barulho fora da casa o chamou a atenção, paulo aperriado achando que poderia ser algum animal, pegou a espingarda do pai e foi ver o que era, ao sair viu que era apenas um gato que havia derrubado uma spanelas, entao ele entrou novamente na casa, seu pai de dentro do quarto perguntou o que havia acontecido, e ao entrar no quarto com a arma na mão para dizer o que o pai queria saber, paulo tropeçou, caiu no chão e a arma disparou,, atingindo seu ´pai com um tiro certeiro na cabeça e o matando estantaneamente, sua mãe gritou muito pois ela estava do lado do pai, desesperada ela começou a bater em paulo que com muito medo atirou na barriga de sua mãe, matando-lhe aos poucos, os gemidos dela pedindo ajuda acordou os seus irmãos que chorando perguntaram o porq ele tinha feito isso,paulo então foi no armario do pai, colocou mais cartuchos na espingarda e saiu atirando em cada um dos irmãos, para que morressem e ele nao tivesse que explicar o que tivesse acontecido,no outro dia paulo deixou  acasa enterrou os corpos e foi embora para o recife, hoje ele é politico

beijo gay

OS HOMENS MODERNOS DE HOJE EM DIA,PODEM CONTEMPLAR O GOSTO SABOROSO DE UM BEIJO COM PESSOAS DO MESMO SEXO SEM MAIORES PROBLEMAS,DIFERENTEMENTE DO PASSADO EM QUE OS GAYS ERAM TAXADOS COMO GRUPO DE RISCO,HOJE SOMOS RESPEITADOS PELO QUE SOMOS E TEMOS TOTAL LIBERDADE DE DEMONSTRAR O QUE SENTIMOS PERANTE A SOCIEDADE,SOMOS APROXIMADAMENTE 10% DA POPULAÇÃO MUNDIAL, E ARRASTAMOS UMA GRANDE MASSA CONOSCO QUE PODE MUDAR O MUNDO DE ACORDO COM NOSSAS VONTADES,O LANCE DE HOMEM COM MULHER SE BEIJANDO É ALGO ULTRAPASSADO,ATUALMENTE SER GAY É QUE É MAIS VALIDO, POR ISSO DEIXEI MINHA NAMORADA E HOJE TENHO COMO PARCEIRO UM GRANDE BROTHER MEU CHAMADO RENATO,ELE ME COMPLETA E POSSO SER HOMEM E MULHER DELE AO MESMO TEMPO, NÃO TEM ISSO DE ATIVO E PÁSSIVO, MAS SIM, MUITO RESPEITO, CARINHO E AMOR.
NOSSAS FAM,ILIAS AINDA NÃO ACEITAM TOTALMENTE NOSSA PAIXÃO,MAS E SÓ UMA QUESTAO DE TEMPO, TABÚS FORAM FEITOS PARA SEREM QUEBRADOS E ESSE SERÁ APENAS MAIS UM QUE NOS LIBERTARÁ DE TODOS OS CONFLITOS EXISTENTES NA CLASSE MODERNA ATUAL, OS HOMOSEXUAIS.

fudeu com minha banda

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Tédio: O Pior de Todos!



"Participe da hilariante aventura da vida!"

             De todos os sentimentos existenciais conhecidos, o tédio é o pior de todos. Não importa se você é médico e salvou uma pessoa ou se é pedreiro e construiu um muro, mas cedo ou mais tarde você vai ter uma sensação que muitos já tiveram ou vão ter: Tédio.
            Essa sensação de tudo que você fez , está fazendo ou fará aparenta não ter significado algum, é uma merda. Porque “ele” meio que zomba de nós! Tipo “Rá rá por que você está tão entediado? Você sabe que não importa o que você consiga na vida, a sensação de acordar às 11h da manhã de um domingo vai ser tudo que eu posso lhe propiciar.”
            Na minha opinião o tédio é o pior.
            Quando você está triste, passa.
            Quando feliz, também.
            E geralmente quando se está muito feliz, talvez aconteça alguma coisa que faça-o ficar menos alegre, digamos assim. O mesmo acontece quando estamos tristes, dá pra “sorrir” mesmo de modo desesperador da situação (quase sempre não dá não ), mas o tédio...
Putz...
Nem sei porque tô escrevendo isso!
Hoje é Domingo, são 11h e eu acabei de acordar!!!!!


PS. ignorem tudo que eu disse acima.
Obrigado.

sábado, 23 de outubro de 2010

As Palavras Certas.


             Certa vez era primavera em Paris (França), onde próximo a Torre Eiffel havia um Cego com sua tradicional vasilha para recolher esmolas e uma louça com os dizeres: “UMA ESMOLA PARA O CEGUINHO”.
            Naquele dia o “negócio” de esmolas estava em baixa e a vasilha do nosso estimado ceguinho encontrava-se quase vazia, salvo duas moedas, que outrora lhe foram dadas por uma simpática velhinha que ali passara.
            Ao ver a situação do ceguinho um rapaz aproximou-se, mas nada disse, pegou a louça apagando o que estava escrito e escreveu algumas palavras, colocou a louça novamente no mesmo lugar onde tinha pego e foi embora seguindo seu caminho. Uma coisa estranha aconteceu, logo após a ida dele, começaram a “chover” bastantes esmolas na vasilha do ceguinho que chegou a ficar lotada de tanto dinheiro. Com aquele dinheiro todo ele não vai precisar mendigar por um bom tempo!
            Ao longe o rapaz que tinha escrito na louça passou próximo ao ceguinho novamente, então o ceguinho que tinha decorado seus passos e o aroma de sua loção pós-barba falou: “Hei, hei, você! Eu sei que foi você que escreveu na minha louça e logo depois minha sorte mudou, te agradeço desde já, mas por favor, me fale, o que você escreveu, o que disse, para que tocasse o coração dessa gente e eles começarem a me ajudar?”
            O rapaz olhou para ele sorriu e depois disse: Eu apenas usei as palavras certas meu amigo, com as palavras certas, você consegue tudo que você desejar...”
            Logo após dizer isso ele foi embora deixando o ceguinho falando sozinho sem saber o que foi escrito. Então ele sentiu o perfume cítrico que vinha de uma joven, que deveria ter seus vinte e poucos anos e ele pediu para que ela lê-se para ele o que estava escrito na louça, pois ele não sabia.
            Então,  com uma voz tranquila leu o que estava escrito: “HOJE É PRIMAVERA EM  PARIS E NÃO POSSO VÊ-LA”
            O ceguinho sentiu o salgado de suas lágrimas escorrerem até seus lábios pegou seu dinheiro e foi embora.

sábado, 16 de outubro de 2010

Mulheres e a Onipresença Divina.


             

              Será mesmo que Deus consegue está em todos os lugares ao mesmo tempo?
Dependendo de sua fé ele está sim, mas um fato  pertinente é que as mulheres estão, não em todos os lugares ao mesmo tempo, mas, prestes a provar que poder e sensibilidade andam lado a lado.
            Confesso  as mulheres sempre fizeram/fazem um papel muito importante na minha vida e lembro que as coisas mais interessantes que  fiz foi tentando impressioná-las.Minha mãe,vó,tias, professoras, amigas,  sempre me esforcei bastante para ser admirado e respeitado por elas. Hoje direciono todo meu talento tentando impressionar minha amada e continuo fazendo ela sorrir das minhas piadas e postulações inocentes.
            Voltando ao assunto, elas sempre conseguem tudo o que querem de nós homens, e fazem com que pareça que estamos fazendo do nosso jeito, mas não meu caro, é sempre do jeito delas e só percebemos depois de muito tempo quando não tem nem mais graça.
            Quando você é criança lá pelos 10 anos de idade você começa a olhar para as meninas de forma diferente, nessa fase você só vai conseguir alguma coisa no “pêra, uva, maçã ou salada mista” se for “bonito”, então vai receber muitos aperto de mãos em vez de “saladas mistas”, lembro que fui muito cumprimentado nessa época. Hehehehe
            Quando chega a adolescência as garotas dizem que não ligam para a beleza física e querem caras inteligentes e legais, nessa época conhecia um monte de cara inteligente e legais que não pegavam ninguém, quem pegava todas eram os caras que ficavam 10h na academia de musculação.
            Hoje em dia só precisa ter dinheiro ou aparentar ter, ou ter um carro , logicamente que não são todas as garotas que são assim, mas a grana ajuda.
            A maioria dos caras quando é adolescente é meio inseguro com relação às mulheres, temos medo de termos nossa auto-estima ferida de alguma forma e nosso orgulho macho maculado por seres tão encantadores. Certa vez não faz muito tempo, estava andando com um amigo na rua e logo a nossa frente um pouco distante tinha um homem aproximadamente uns trinta anos de mãos dadas com uma menina que acho que devia ter uns oito anos. Meu amigo apontou e me perguntou :”cara, será que aquela menina é namorada daquele cara?”
            Eu olhei, prestei atenção nas roupas e principalmente no jeito de andar e disse: “Pelo jeito dela andar deve ser filha, ela anda feito criança e não tem “a malícia que toda mulher” tem quando caminha(menção honrosa ao poeta Noel Rosa).
            Não queria passar por preconceituoso e apressamos o passo e ultrapassamos os dois e eu perguntei as horas para ver o rosto deles e de fato a genética ali estava latente, se não fossem pai e filha, eram parentes em primeiro grau. Até hoje tudo que minha mãe fala eu paro para escutar, parece que as mãe sempre têm razão, impressionante isso, certa vez eu li que Deus não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo por isso iventou as mães, acho que isso põe por terra a onipresença divina.
  

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Laços Humanos





Natal na barca
Lygia Fagundes Telles

Não quero nem devo lembrar aqui por que me encontrava naquela barca. Só sei que em redor tudo era silêncio e treva. E que me sentia bem naquela solidão. Na embarcação desconfortável, tosca, apenas quatro passageiros. Uma lanterna nos iluminava com sua luz vacilante: um velho, uma mulher com uma criança e eu.

O velho, um bêbado esfarrapado, deitara-se de comprido no banco, dirigira palavras amenas a um vizinho invisível e agora dormia. A mulher estava sentada entre nós, apertando nos braços a criança enrolada em panos. Era uma mulher jovem e pálida. O longo manto escuro que lhe cobria a cabeça dava-lhe o aspecto de uma figura antiga.

Pensei em falar-lhe assim que entrei na barca. Mas já devíamos estar quase no fim da viagem e até aquele instante não me ocorrera dizer-lhe qualquer palavra. Nem combinava mesmo com uma barca tão despojada, tão sem artifícios, a ociosidade de um diálogo. Estávamos sós. E o melhor ainda era não fazer nada, não dizer nada, apenas olhar o sulco negro que a embarcação ia fazendo no rio.

Debrucei-me na grade de madeira carcomida. Acendi um cigarro. Ali estávamos os quatro, silenciosos como mortos num antigo barco de mortos deslizando na escuridão. Contudo, estávamos vivos. E era Natal.

A caixa de fósforos escapou-me das mãos e quase resvalou para o rio. Agachei-me para apanhá-la. Sentindo então alguns respingos no rosto, inclinei-me mais até mergulhar as pontas dos dedos na água.

— Tão gelada — estranhei, enxugando a mão.

— Mas de manhã é quente.

Voltei-me para a mulher que embalava a criança e me observava com um meio sorriso. Sentei-me no banco ao seu lado. Tinha belos olhos claros, extraordinariamente brilhantes. Reparei que suas roupas (pobres roupas puídas) tinham muito caráter, revestidas de uma certa dignidade.

— De manhã esse rio é quente — insistiu ela, me encarando.

— Quente?

— Quente e verde, tão verde que a primeira vez que lavei nele uma peça de roupa pensei que a roupa fosse sair esverdeada. É a primeira vez que vem por estas bandas?

Desviei o olhar para o chão de largas tábuas gastas. E respondi com uma outra pergunta:

— Mas a senhora mora aqui perto?

— Em Lucena. Já tomei esta barca não sei quantas vezes, mas não esperava que justamente hoje...

A criança agitou-se, choramingando. A mulher apertou-a mais contra o peito. Cobriu-lhe a cabeça com o xale e pôs-se a niná-la com um brando movimento de cadeira de balanço. Suas mãos destacavam-se exaltadas sobre o xale preto, mas o rosto era sereno.

— Seu filho?

— É. Está doente, vou ao especialista, o farmacêutico de Lucena achou que eu devia ver um médico hoje mesmo. Ainda ontem ele estava bem mas piorou de repente. Uma febre, só febre... Mas Deus não vai me abandonar.

— É o caçula?

Levantou a cabeça com energia. O queixo agudo era altivo mas o olhar tinha a expressão doce.

— É o único. O meu primeiro morreu o ano passado. Subiu no muro, estava brincando de mágico quando de repente avisou, vou voar! E atirou-se. A queda não foi grande, o muro não era alto, mas caiu de tal jeito... Tinha pouco mais de quatro anos.

Joguei o cigarro na direção do rio e o toco bateu na grade, voltou e veio rolando aceso pelo chão. Alcancei-o com a ponta do sapato e fiquei a esfregá-lo devagar. Era preciso desviar o assunto para aquele filho que estava ali, doente, embora. Mas vivo.

— E esse? Que idade tem?

— Vai completar um ano. — E, noutro tom, inclinando a cabeça para o ombro: — Era um menino tão alegre. Tinha verdadeira mania com mágicas. Claro que não saía nada, mas era muito engraçado... A última mágica que fez foi perfeita, vou voar! disse abrindo os braços. E voou.

Levantei-me. Eu queria ficar só naquela noite, sem lembranças, sem piedade. Mas os laços (os tais laços humanos) já ameaçavam me envolver. Conseguira evitá-los até aquele instante. E agora não tinha forças para rompê-los.

— Seu marido está à sua espera?

— Meu marido me abandonou.

Sentei-me e tive vontade de rir. Incrível. Fora uma loucura fazer a primeira pergunta porque agora não podia mais parar, ah! aquele sistema dos vasos comunicantes.

— Há muito tempo? Que seu marido...

— Faz uns seis meses. Vivíamos tão bem, mas tão bem. Foi quando ele encontrou por acaso essa antiga namorada, me falou nela fazendo uma brincadeira, a Bila enfeiou, sabe que de nós dois fui eu que acabei ficando mais bonito? Não tocou mais no assunto. Uma manhã ele se levantou como todas as manhãs, tomou café, leu o jornal, brincou com o menino e foi trabalhar. Antes de sair ainda fez assim com a mão, eu estava na cozinha lavando a louça e ele me deu um adeus através da tela de arame da porta, me lembro até que eu quis abrir a porta, não gosto de ver ninguém falar comigo com aquela tela no meio... Mas eu estava com a mão molhada. Recebi a carta de tardinha, ele mandou uma carta. Fui morar com minha mãe numa casa que alugamos perto da minha escolinha. Sou professora.

Olhei as nuvens tumultuadas que corriam na mesma direção do rio. Incrível. Ia contando as sucessivas desgraças com tamanha calma, num tom de quem relata fatos sem ter realmente participado deles. Como se não bastasse a pobreza que espiava pelos remendos da sua roupa, perdera o filhinho, o marido, via pairar uma sombra sobre o segundo filho que ninava nos braços. E ali estava sem a menor revolta, confiante. Apatia? Não, não podiam ser de uma apática aqueles olhos vivíssimos, aquelas mãos enérgicas. Inconsciência? Uma certa irritação me fez andar.

— A senhora é conformada.

— Tenho fé, dona. Deus nunca me abandonou.

— Deus — repeti vagamente.

— A senhora não acredita em Deus?

— Acredito — murmurei. E ao ouvir o som débil da minha afirmativa, sem saber por quê, perturbei-me. Agora entendia. Aí estava o segredo daquela segurança, daquela calma. Era a tal fé que removia montanhas...

Ela mudou a posição da criança, passando-a do ombro direito para o esquerdo. E começou com voz quente de paixão:

— Foi logo depois da morte do meu menino. Acordei uma noite tão desesperada que saí pela rua afora, enfiei um casaco e saí descalça e chorando feito louca, chamando por ele! Sentei num banco do jardim onde toda tarde ele ia brincar. E fiquei pedindo, pedindo com tamanha força, que ele, que gostava tanto de mágica, fizesse essa mágica de me aparecer só mais uma vez, não precisava ficar, se mostrasse só um instante, ao menos mais uma vez, só mais uma! Quando fiquei sem lágrimas, encostei a cabeça no banco e não sei como dormi. Então sonhei e no sonho Deus me apareceu, quer dizer, senti que ele pegava na minha mão com sua mão de luz. E vi o meu menino brincando com o Menino Jesus no jardim do Paraíso. Assim que ele me viu, parou de brincar e veio rindo ao meu encontro e me beijou tanto, tanto... Era tamanha sua alegria que acordei rindo também, com o sol batendo em mim.

Fiquei sem saber o que dizer. Esbocei um gesto e em seguida, apenas para fazer alguma coisa, levantei a ponta do xale que cobria a cabeça da criança. Deixei cair o xale novamente e voltei-me para o rio. O menino estava morto. Entrelacei as mãos para dominar o tremor que me sacudiu. Estava morto. A mãe continuava a niná-lo, apertando-o contra o peito. Mas ele estava morto.

Debrucei-me na grade da barca e respirei penosamente: era como se estivesse mergulhada até o pescoço naquela água. Senti que a mulher se agitou atrás de mim

— Estamos chegando — anunciou.

Apanhei depressa minha pasta. O importante agora era sair, fugir antes que ela descobrisse, correr para longe daquele horror. Diminuindo a marcha, a barca fazia uma larga curva antes de atracar. O bilheteiro apareceu e pôs-se a sacudir o velho que dormia:

- Chegamos!... Ei! chegamos!

Aproximei-me evitando encará-la.

— Acho melhor nos despedirmos aqui — disse atropeladamente, estendendo a mão.

Ela pareceu não notar meu gesto. Levantou-se e fez um movimento como se fosse apanhar a sacola. Ajudei-a, mas ao invés de apanhar a sacola que lhe estendi, antes mesmo que eu pudesse impedi-lo, afastou o xale que cobria a cabeça do filho.

— Acordou o dorminhoco! E olha aí, deve estar agora sem nenhuma febre.

— Acordou?!

Ela sorriu:

— Veja...

Inclinei-me. A criança abrira os olhos — aqueles olhos que eu vira cerrados tão definitivamente. E bocejava, esfregando a mãozinha na face corada. Fiquei olhando sem conseguir falar.

— Então, bom Natal! — disse ela, enfiando a sacola no braço.

Sob o manto preto, de pontas cruzadas e atiradas para trás, seu rosto resplandecia. Apertei-lhe a mão vigorosa e acompanhei-a com o olhar até que ela desapareceu na noite.

Conduzido pelo bilheteiro, o velho passou por mim retomando seu afetuoso diálogo com o vizinho invisível. Saí por último da barca. Duas vezes voltei-me ainda para ver o rio. E pude imaginá-lo como seria de manhã cedo: verde e quente. Verde e quente.


Texto extraído do livro “Para gostar de ler – Volume 9 – Contos”, Editora Ática – São Paulo, 1984, pág. 67.