sábado, 23 de outubro de 2010

As Palavras Certas.


             Certa vez era primavera em Paris (França), onde próximo a Torre Eiffel havia um Cego com sua tradicional vasilha para recolher esmolas e uma louça com os dizeres: “UMA ESMOLA PARA O CEGUINHO”.
            Naquele dia o “negócio” de esmolas estava em baixa e a vasilha do nosso estimado ceguinho encontrava-se quase vazia, salvo duas moedas, que outrora lhe foram dadas por uma simpática velhinha que ali passara.
            Ao ver a situação do ceguinho um rapaz aproximou-se, mas nada disse, pegou a louça apagando o que estava escrito e escreveu algumas palavras, colocou a louça novamente no mesmo lugar onde tinha pego e foi embora seguindo seu caminho. Uma coisa estranha aconteceu, logo após a ida dele, começaram a “chover” bastantes esmolas na vasilha do ceguinho que chegou a ficar lotada de tanto dinheiro. Com aquele dinheiro todo ele não vai precisar mendigar por um bom tempo!
            Ao longe o rapaz que tinha escrito na louça passou próximo ao ceguinho novamente, então o ceguinho que tinha decorado seus passos e o aroma de sua loção pós-barba falou: “Hei, hei, você! Eu sei que foi você que escreveu na minha louça e logo depois minha sorte mudou, te agradeço desde já, mas por favor, me fale, o que você escreveu, o que disse, para que tocasse o coração dessa gente e eles começarem a me ajudar?”
            O rapaz olhou para ele sorriu e depois disse: Eu apenas usei as palavras certas meu amigo, com as palavras certas, você consegue tudo que você desejar...”
            Logo após dizer isso ele foi embora deixando o ceguinho falando sozinho sem saber o que foi escrito. Então ele sentiu o perfume cítrico que vinha de uma joven, que deveria ter seus vinte e poucos anos e ele pediu para que ela lê-se para ele o que estava escrito na louça, pois ele não sabia.
            Então,  com uma voz tranquila leu o que estava escrito: “HOJE É PRIMAVERA EM  PARIS E NÃO POSSO VÊ-LA”
            O ceguinho sentiu o salgado de suas lágrimas escorrerem até seus lábios pegou seu dinheiro e foi embora.

sábado, 16 de outubro de 2010

Mulheres e a Onipresença Divina.


             

              Será mesmo que Deus consegue está em todos os lugares ao mesmo tempo?
Dependendo de sua fé ele está sim, mas um fato  pertinente é que as mulheres estão, não em todos os lugares ao mesmo tempo, mas, prestes a provar que poder e sensibilidade andam lado a lado.
            Confesso  as mulheres sempre fizeram/fazem um papel muito importante na minha vida e lembro que as coisas mais interessantes que  fiz foi tentando impressioná-las.Minha mãe,vó,tias, professoras, amigas,  sempre me esforcei bastante para ser admirado e respeitado por elas. Hoje direciono todo meu talento tentando impressionar minha amada e continuo fazendo ela sorrir das minhas piadas e postulações inocentes.
            Voltando ao assunto, elas sempre conseguem tudo o que querem de nós homens, e fazem com que pareça que estamos fazendo do nosso jeito, mas não meu caro, é sempre do jeito delas e só percebemos depois de muito tempo quando não tem nem mais graça.
            Quando você é criança lá pelos 10 anos de idade você começa a olhar para as meninas de forma diferente, nessa fase você só vai conseguir alguma coisa no “pêra, uva, maçã ou salada mista” se for “bonito”, então vai receber muitos aperto de mãos em vez de “saladas mistas”, lembro que fui muito cumprimentado nessa época. Hehehehe
            Quando chega a adolescência as garotas dizem que não ligam para a beleza física e querem caras inteligentes e legais, nessa época conhecia um monte de cara inteligente e legais que não pegavam ninguém, quem pegava todas eram os caras que ficavam 10h na academia de musculação.
            Hoje em dia só precisa ter dinheiro ou aparentar ter, ou ter um carro , logicamente que não são todas as garotas que são assim, mas a grana ajuda.
            A maioria dos caras quando é adolescente é meio inseguro com relação às mulheres, temos medo de termos nossa auto-estima ferida de alguma forma e nosso orgulho macho maculado por seres tão encantadores. Certa vez não faz muito tempo, estava andando com um amigo na rua e logo a nossa frente um pouco distante tinha um homem aproximadamente uns trinta anos de mãos dadas com uma menina que acho que devia ter uns oito anos. Meu amigo apontou e me perguntou :”cara, será que aquela menina é namorada daquele cara?”
            Eu olhei, prestei atenção nas roupas e principalmente no jeito de andar e disse: “Pelo jeito dela andar deve ser filha, ela anda feito criança e não tem “a malícia que toda mulher” tem quando caminha(menção honrosa ao poeta Noel Rosa).
            Não queria passar por preconceituoso e apressamos o passo e ultrapassamos os dois e eu perguntei as horas para ver o rosto deles e de fato a genética ali estava latente, se não fossem pai e filha, eram parentes em primeiro grau. Até hoje tudo que minha mãe fala eu paro para escutar, parece que as mãe sempre têm razão, impressionante isso, certa vez eu li que Deus não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo por isso iventou as mães, acho que isso põe por terra a onipresença divina.
  

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Laços Humanos





Natal na barca
Lygia Fagundes Telles

Não quero nem devo lembrar aqui por que me encontrava naquela barca. Só sei que em redor tudo era silêncio e treva. E que me sentia bem naquela solidão. Na embarcação desconfortável, tosca, apenas quatro passageiros. Uma lanterna nos iluminava com sua luz vacilante: um velho, uma mulher com uma criança e eu.

O velho, um bêbado esfarrapado, deitara-se de comprido no banco, dirigira palavras amenas a um vizinho invisível e agora dormia. A mulher estava sentada entre nós, apertando nos braços a criança enrolada em panos. Era uma mulher jovem e pálida. O longo manto escuro que lhe cobria a cabeça dava-lhe o aspecto de uma figura antiga.

Pensei em falar-lhe assim que entrei na barca. Mas já devíamos estar quase no fim da viagem e até aquele instante não me ocorrera dizer-lhe qualquer palavra. Nem combinava mesmo com uma barca tão despojada, tão sem artifícios, a ociosidade de um diálogo. Estávamos sós. E o melhor ainda era não fazer nada, não dizer nada, apenas olhar o sulco negro que a embarcação ia fazendo no rio.

Debrucei-me na grade de madeira carcomida. Acendi um cigarro. Ali estávamos os quatro, silenciosos como mortos num antigo barco de mortos deslizando na escuridão. Contudo, estávamos vivos. E era Natal.

A caixa de fósforos escapou-me das mãos e quase resvalou para o rio. Agachei-me para apanhá-la. Sentindo então alguns respingos no rosto, inclinei-me mais até mergulhar as pontas dos dedos na água.

— Tão gelada — estranhei, enxugando a mão.

— Mas de manhã é quente.

Voltei-me para a mulher que embalava a criança e me observava com um meio sorriso. Sentei-me no banco ao seu lado. Tinha belos olhos claros, extraordinariamente brilhantes. Reparei que suas roupas (pobres roupas puídas) tinham muito caráter, revestidas de uma certa dignidade.

— De manhã esse rio é quente — insistiu ela, me encarando.

— Quente?

— Quente e verde, tão verde que a primeira vez que lavei nele uma peça de roupa pensei que a roupa fosse sair esverdeada. É a primeira vez que vem por estas bandas?

Desviei o olhar para o chão de largas tábuas gastas. E respondi com uma outra pergunta:

— Mas a senhora mora aqui perto?

— Em Lucena. Já tomei esta barca não sei quantas vezes, mas não esperava que justamente hoje...

A criança agitou-se, choramingando. A mulher apertou-a mais contra o peito. Cobriu-lhe a cabeça com o xale e pôs-se a niná-la com um brando movimento de cadeira de balanço. Suas mãos destacavam-se exaltadas sobre o xale preto, mas o rosto era sereno.

— Seu filho?

— É. Está doente, vou ao especialista, o farmacêutico de Lucena achou que eu devia ver um médico hoje mesmo. Ainda ontem ele estava bem mas piorou de repente. Uma febre, só febre... Mas Deus não vai me abandonar.

— É o caçula?

Levantou a cabeça com energia. O queixo agudo era altivo mas o olhar tinha a expressão doce.

— É o único. O meu primeiro morreu o ano passado. Subiu no muro, estava brincando de mágico quando de repente avisou, vou voar! E atirou-se. A queda não foi grande, o muro não era alto, mas caiu de tal jeito... Tinha pouco mais de quatro anos.

Joguei o cigarro na direção do rio e o toco bateu na grade, voltou e veio rolando aceso pelo chão. Alcancei-o com a ponta do sapato e fiquei a esfregá-lo devagar. Era preciso desviar o assunto para aquele filho que estava ali, doente, embora. Mas vivo.

— E esse? Que idade tem?

— Vai completar um ano. — E, noutro tom, inclinando a cabeça para o ombro: — Era um menino tão alegre. Tinha verdadeira mania com mágicas. Claro que não saía nada, mas era muito engraçado... A última mágica que fez foi perfeita, vou voar! disse abrindo os braços. E voou.

Levantei-me. Eu queria ficar só naquela noite, sem lembranças, sem piedade. Mas os laços (os tais laços humanos) já ameaçavam me envolver. Conseguira evitá-los até aquele instante. E agora não tinha forças para rompê-los.

— Seu marido está à sua espera?

— Meu marido me abandonou.

Sentei-me e tive vontade de rir. Incrível. Fora uma loucura fazer a primeira pergunta porque agora não podia mais parar, ah! aquele sistema dos vasos comunicantes.

— Há muito tempo? Que seu marido...

— Faz uns seis meses. Vivíamos tão bem, mas tão bem. Foi quando ele encontrou por acaso essa antiga namorada, me falou nela fazendo uma brincadeira, a Bila enfeiou, sabe que de nós dois fui eu que acabei ficando mais bonito? Não tocou mais no assunto. Uma manhã ele se levantou como todas as manhãs, tomou café, leu o jornal, brincou com o menino e foi trabalhar. Antes de sair ainda fez assim com a mão, eu estava na cozinha lavando a louça e ele me deu um adeus através da tela de arame da porta, me lembro até que eu quis abrir a porta, não gosto de ver ninguém falar comigo com aquela tela no meio... Mas eu estava com a mão molhada. Recebi a carta de tardinha, ele mandou uma carta. Fui morar com minha mãe numa casa que alugamos perto da minha escolinha. Sou professora.

Olhei as nuvens tumultuadas que corriam na mesma direção do rio. Incrível. Ia contando as sucessivas desgraças com tamanha calma, num tom de quem relata fatos sem ter realmente participado deles. Como se não bastasse a pobreza que espiava pelos remendos da sua roupa, perdera o filhinho, o marido, via pairar uma sombra sobre o segundo filho que ninava nos braços. E ali estava sem a menor revolta, confiante. Apatia? Não, não podiam ser de uma apática aqueles olhos vivíssimos, aquelas mãos enérgicas. Inconsciência? Uma certa irritação me fez andar.

— A senhora é conformada.

— Tenho fé, dona. Deus nunca me abandonou.

— Deus — repeti vagamente.

— A senhora não acredita em Deus?

— Acredito — murmurei. E ao ouvir o som débil da minha afirmativa, sem saber por quê, perturbei-me. Agora entendia. Aí estava o segredo daquela segurança, daquela calma. Era a tal fé que removia montanhas...

Ela mudou a posição da criança, passando-a do ombro direito para o esquerdo. E começou com voz quente de paixão:

— Foi logo depois da morte do meu menino. Acordei uma noite tão desesperada que saí pela rua afora, enfiei um casaco e saí descalça e chorando feito louca, chamando por ele! Sentei num banco do jardim onde toda tarde ele ia brincar. E fiquei pedindo, pedindo com tamanha força, que ele, que gostava tanto de mágica, fizesse essa mágica de me aparecer só mais uma vez, não precisava ficar, se mostrasse só um instante, ao menos mais uma vez, só mais uma! Quando fiquei sem lágrimas, encostei a cabeça no banco e não sei como dormi. Então sonhei e no sonho Deus me apareceu, quer dizer, senti que ele pegava na minha mão com sua mão de luz. E vi o meu menino brincando com o Menino Jesus no jardim do Paraíso. Assim que ele me viu, parou de brincar e veio rindo ao meu encontro e me beijou tanto, tanto... Era tamanha sua alegria que acordei rindo também, com o sol batendo em mim.

Fiquei sem saber o que dizer. Esbocei um gesto e em seguida, apenas para fazer alguma coisa, levantei a ponta do xale que cobria a cabeça da criança. Deixei cair o xale novamente e voltei-me para o rio. O menino estava morto. Entrelacei as mãos para dominar o tremor que me sacudiu. Estava morto. A mãe continuava a niná-lo, apertando-o contra o peito. Mas ele estava morto.

Debrucei-me na grade da barca e respirei penosamente: era como se estivesse mergulhada até o pescoço naquela água. Senti que a mulher se agitou atrás de mim

— Estamos chegando — anunciou.

Apanhei depressa minha pasta. O importante agora era sair, fugir antes que ela descobrisse, correr para longe daquele horror. Diminuindo a marcha, a barca fazia uma larga curva antes de atracar. O bilheteiro apareceu e pôs-se a sacudir o velho que dormia:

- Chegamos!... Ei! chegamos!

Aproximei-me evitando encará-la.

— Acho melhor nos despedirmos aqui — disse atropeladamente, estendendo a mão.

Ela pareceu não notar meu gesto. Levantou-se e fez um movimento como se fosse apanhar a sacola. Ajudei-a, mas ao invés de apanhar a sacola que lhe estendi, antes mesmo que eu pudesse impedi-lo, afastou o xale que cobria a cabeça do filho.

— Acordou o dorminhoco! E olha aí, deve estar agora sem nenhuma febre.

— Acordou?!

Ela sorriu:

— Veja...

Inclinei-me. A criança abrira os olhos — aqueles olhos que eu vira cerrados tão definitivamente. E bocejava, esfregando a mãozinha na face corada. Fiquei olhando sem conseguir falar.

— Então, bom Natal! — disse ela, enfiando a sacola no braço.

Sob o manto preto, de pontas cruzadas e atiradas para trás, seu rosto resplandecia. Apertei-lhe a mão vigorosa e acompanhei-a com o olhar até que ela desapareceu na noite.

Conduzido pelo bilheteiro, o velho passou por mim retomando seu afetuoso diálogo com o vizinho invisível. Saí por último da barca. Duas vezes voltei-me ainda para ver o rio. E pude imaginá-lo como seria de manhã cedo: verde e quente. Verde e quente.


Texto extraído do livro “Para gostar de ler – Volume 9 – Contos”, Editora Ática – São Paulo, 1984, pág. 67.


sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Deixai toda esperança,ó vois que entrais!!!


                                           


Dante e Virgílio "passeando" pelo Inferno.
                                                  

            Há alguns anos aconteceu aqui em Recife uma exposição de um famoso escultor francês chamado Auguste Rodin(1840-1917), lembro que na época eu não era tão ligado em artes e praticamente não conhecia nada sobre o assunto, hoje em dia gosto muito de artes clássicas e artes digitais mas ainda continuo não sabendo nada sobre elas.
            A questão é que fui ver a exposição, inclusive tenho o “canhoto” do ingresso comigo até hoje,lembro de ter chamado alguns amigos mas ninguém quis ir, então fui sozinho mesmo, chegando lá a maioria das esculturas era de Bronze ou Gesso, estavam lá as já clássicas “O Pensador”, “O Beijo”, “O Torso”, mas o que mais me chamou a atenção foi “Os portões do Inferno”, uma escultura de bronze com uns 3 metros de altura.
            O guia afirmava que essa escultura foi feita baseada na obra de Dante Alighieri(1265-1321), chamada A Divina Comédia, eu já tinha ouvido falar do livro e tudo mais, mas naquela época eu só lia História em Quadrinhos, então de certa forma foi um incentivo ao hábito da leitura (livros) que carrego comigo até hoje, mas não deixei de ler hqs.
            Saindo da exposição fui direto na biblioteca pegar os livros, pois a obra é dividida em: Inferno, Purgatório e Paraíso. É toda escrita em poesias, cantos, e não de uma linguagem muito simples, pelo menos para mim não era, não sei agora, só sei que A Divina Comédia, foi o livro que  devo ter passado uns  seis meses para concluir, mas me senti super orgulhoso quando terminei.
            Quando Dante era jovem ele foi noivo de sua prima que se chamava Beatrice, esta veio a falecer aos 15 anos de idade, e a única forma de diminuir seu luto foi  escrevendo uma das mais complexas e completas obras já escritas pelo amor de uma mulher.
            No livro junto ao Poeta Virgílio( Morto), Dante é o único homem vivo, a atravesar os ciclos do inferno, o putgatório e chegar até o paraíso para encontrar o grande amor da sua vida, confesso que a parte mais instigante é quando ele está no Inferno, pois lá ele encontra seus inimigos e inclusive alguns papas sofrendo repetidas penas, o Purgatório, é legal por causa dos filósofos, que não tinham pemissão para entrar no paraíso, mas o Paraíso é onde ele encontra Beatrice, pois ela é tão imaculada, que só estar a um degrau de Jesus na “Escadaria” celestial.
            Os tempos românticos se foram, o cara atravessou o inferno, para encontrar sua amada, aposto que se sua namorada/esposa/noiva pedir para você ir buscar ela no trabalho ou na faculdade, você vai cheio de má vontade hehehehe.



                                                    

Os Portões do Inferno
O Pensador
                                                                 
O Beijo